ROTEIRO DOS BAIRROS DE LISBOA: CAIS DO SODRÉ, RITUAL DE PASSAGEM

Até à ‘cara nova’ que só em 2017 foi mostrada, o cenário do CAIS DO SODRÉ manteve-se intocado durante décadas e as exceções da última quinzena de anos só vinham à luz do dia e aos fulgores da noite para confirmar a regra. À beira-rio era um rodopio de cargueiros e barcos de pesca, para lá do vai-e-vem dos cacilheiros a garantir acesso à Margem Sul. A estação ferroviária ganhou terminal de metropolitano e tudo o que era gente de trabalho ou veraneante com fome de praia parecia disposto a não desembocar noutro lugar que não no CAIS DO SODRÉ. Desse por onde desse, este era um lugar de passagem.

No despertar do novo século, o CAIS DO SODRÉ nem se dava ao trabalho de combater uma desertificação habitacional. A noite pertencia ao Bairro Alto e o dia estava nas mãos do resto da cidade. As ‘altas horas’ tinham um apelo dificilmente resistível, mesmo que feito de uma fama desgraçada. A sua ‘fauna’ era um mix de prostituição à vista desarmada, marinheiros sedentos em terra e lisboetas sem sono ou destino a pulular entre casas ‘da noite’ para dançar em magotes, beber até à perdição e ‘fazer amizades’. E havia os que tinham vindo de fora, que com os transportes à beira de despertar sabiam bem que o CAIS DO SODRÉ evitava as restrições de horários. Fora as outras. No fim, não fosse o dia acordar a lembrar a hora do trabalho, bebia-se o cacau na Ribeira, entre a euforia típica de um mercado abastecedor, as praças de flores e os pregões das varinas.

Com a ‘reconquista’ da beira-Tejo e os seus paredões largos onde agora cabem restaurantes, bares, antros de música ao vivo, quiosques e esplanadas, o CAIS DO SODRÉ perdeu o medo da água e decidiu tomar conta do degradado espaço em terra onde em tempos os vizinhos se saudavam e palavras como ‘inquilino’ pareciam fazer sentido. O CAIS DO SODRÉ abraçou a causa ‘trendy’, entre latas de conserva e sex shops, bares temáticos e comércio renovado.

É certo que alguns pedaços do velho CAIS DO SODRÉ permanecem em força mesmo quando não se recomendam. Ainda há tabernas que de reserva vendem minhoca como isco para os pescadores, o largo de São Paulo permanece em ponto de ebulição (para infelicidade dos moradores), o conceito de comércio familiar (drogarias, mercearias) não desapareceu e a diversidade da oferta gastronómica alargou-se mas insiste no ponto fulcral: no CAIS DO SODRÉ a comida nunca é empratada usando apenas pinças ou conta-gotas para o molho. Come-se de tudo. Às vezes até se come muito bem.

E existe, claro, a Praça da Ribeira, agora em dose dupla no mesmo espaço. O velho mercado continua a funcionar tal e qual, a outra metade do edifício é um complexo de estaminés onde grandes e pequenos chefs fazem mais do que dar uma amostra dos respetivos restaurantes numa impressionante variedade de oferta. Não misturando abastecimento e restauração, a concentração de comezainas lembra a confusão de um terminal de aeroporto, mas os ganhos são incomparavelmente maiores que as chatices.

E o CAIS DO SODRÉ faz o que pode para brilhar de noite. Sobreviveram as velhas ‘disco’ da marinhagem, fecharam-se ruas para melhor abrir esplanadas e é-se bairrista a sério por conta do bom tempo e da noitada amena como se nunca chovesse, que esta é uma zona para gatos pardos e mal tem lugar para os pingados.

Continua a ser um ritual de passagem, mesmo que os turistas lhe reconheçam qualidades de ‘alternativo’ e ‘undeground’. A diferença é que agora se demora mais tempo (e com mais gosto) até decidir o que queremos que o destino nos reserve.

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