A Primavera chegou ao Olivier

O ditado “bom filho a casa torna” pode aplicar-se a Olivier da Costa que, após ter conquistado Lisboa com diferentes conceitos de restauração – na actualidade, conta com seis – volta ao primeiro restaurante que criou com o seu nome, o Olivier Avenida, no antigo Tivoli Jardim, agora AVANI Avenida da Liberdade.

O espaço é o mesmo, mas a decoração foi alterada e uma zona exterior adjacente viu surgir uma agradável esplanada. A carta e o conceito do restaurante foram aprimorados. E agora, chama-se simplesmente Olivier.

Na primeira sala, dominada por um bar oval, ao centro, de cor dourada, os barmen preparam os cocktails, que podem ser apreciados ali, pois este espaço funciona perfeitamente apenas para uma bebida ao final do dia. Aqui se define logo o ambiente elegante do restaurante. Em cima do bar um lustre de cristal imponente, e no balcão, vasos enormes cheios de flores diferentes, a competir pela atenção dos fascinados por cor. Cor – dominada de forma sóbria, moderna e elegante neste espaço.

Uns degraus separam esta entrada da sala principal, um palco onde somos conduzidos pelas muitas andorinhas de cerâmica que esvoaçam no tecto de uma sala para a outra. Desconfiamos que foram elas que trouxeram o toque primaveril desta nova decoração. No meio da sala, uma ilha feita de quatro nichos, à frente de um imenso espelho de moldura dourada (a substituir a icónica caveira que dominava a anterior decoração). Novamente os lustres de cristal a alumiar e as poltronas venezianas em veludo azul a dividirem o conforto com sofás em capitoné de veludo da mesma cor. Na parede de tijolo cinzento, nichos com andorinhas, jarras e flores, e noutra, do lado esquerdo, um papel de parede rosado com andorinhas pretas. Do lado direito, uma ampla e alta janela que dá para a esplanada de plantas luxuriantes, sofás em pele laranja, grandes candeeiros e um ambiente de jardim. Definitivamente, o romantismo primaveril invadiu o mais antigo restaurante de Olivier.

Num ambiente de tal sofisticação ficamos com medo de falar acima do murmúrio, mas o atendimento rapidamente nos põe à vontade. Formal na medida certa e acompanhado de uma descontracção natural e de uma simpatia inegável. Afinal, este é um espaço assinado por um chef que prima pela descontração, na sua cozinha e na forma como recebe.

A refeição começa com uma cerveja de gengibre e o couvert – azeitonas grandes e salpicão. O cocktail de gengibre (Moscow Mule) abre o apetite com uma nota de frescura, mas o sabor intensifica-se em picante com os goles repetidos, pedindo por isso as entradas que entretanto chegaram. Dois carpaccios, um de melão, pedaços de mozarella, hortelã, presunto e framboesa, constituindo no prato uma continuação da frescura e doçura da decoração do restaurante; e outro de novilho com pesto, queijo ralado Ossau Iraity e rúcula, esta última a introduzir o sabor amargo que a carne e o queijo de sabor fortes pediam.

  

Tal como fez no seu mais recente espaço, o Absurdo, Olivier pretende descomplicar o acto de comer fora, introduzir uma nota de descontração num momento eminentemente social, de partilha. Neste sentido, até o seu restaurante mais sofisticado se faz valer dos petiscos e da cozinha mais arisca que se poderia encontrar em tabernas ou numa casa de tapas. Esta nova carta introduz diversos petiscos para partilhar, todos com sabores familiares. Os que provámos foram as batatas bravas com maionese picante de morrones (o sabor neutro e aconchegante das batatas a suavizar o impacto do picante) e uns cones (apelidados pelo chef de cornettos), bastante crocantes e recheados de guacamole, cavala e tobiko e polvilhados de ovas de salmão. O primeiro ponto alto desta refeição, com a frescura do guacamole e do ceviche em complemento perfeito ao estaladiço dos cones e das ovas de salmão, tudo com um sabor levemente ácido. Para acompanhar a preceito, a cerveja de gengibre foi trocada por um vinho rosé apessegado, que conjugou muito bem com todo o resto da refeição.

Nas entradas, o sabor caseiro e tradicional que o chef tanto preza mostrou-se plenamente em folhados de queijo com massa finíssima e um sabor intenso e reconfortante, com a surpresa da noz no recheio, e nas empadas da D. Luzia, de massa crocante, recheadas de galinha e requeijão e com um agradável e fresco picadinho de tomate por cima.

Entretanto, a noite já caiu e as salas e esplanada compuseram-se com um zum-zum de vozes em animada partilha, boa disposição e uma baixa mas ainda assim audível música de lounge, enquanto as velas em cima da mesa e os candelabros ajudam a criar uma atmosfera intimista e sofisticada. O público do Olivier encompassa todas as idades num espírito citadino e relaxado.

O repasto continua com uma das estrelas da carta, uma das imagens de marca de Olivier, a Picanha. Servida numa travessa rectangular e disposta em fatias finíssimas, estaladiças no topo e muito mal passadas, com o sabor churrasco na justa medida, percebe-se facilmente o porquê de tamanho protagonismo. E para acompanhar, de forma original, foram-nos sugeridas duas massas. Uma delas é receita da tia do chef: A Massa da Minha Tia Carolina faz-se com linguini, tomate e pesto e tem um sabor agradavelmente adocicado. Para contrapor, a massa de molho de parmesão, enriquecida pelo sabor ocre da trufa preta. Outros destaques dos pratos principais são o “Polvo vs Bacalhau – O árbitro é o ovo”, uma proposta que mistura dois sabores icónicos da nossa gastronomia num único prato, ou o Bife Olivier, um pedaço de novilho feito com um molho do chef.

De espírito e apetite plenamente satisfeitos, experimentámos ainda duas sobremesas de aspecto e sabor igualmente deliciosos: a bomba-branca, um gelado de chocolate branco com merengue em cima de uma calda de morangos, os sabores da fruta e o seu travo a cortar o doce forte do gelado e do merengue; e o Paris-Brest com praliné de avelã (“sabe a Kinder Bueno”, sublinhou a simpática rapariga que o trouxe), onde a massa crocante e o aveludado creme se juntaram para finalizar esta refeição com chave de ouro.

OLIVIER
Rua Júlio César Machado, 7 (AVANI Avenida Liberdade Lisbon Hotel)
Segunda a Sexta, 12:00-15:00, 20:00-24:00.
Sábado, 20:00-24:00. Domingo, 20:00-23:00 (Brunch, das 12:30-16:00)
Reservas: (+351) 213174105 / avenida@olivier.pt
www.olivier.pt

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